152º DRUNH, INSEGOGU / O PORTAL DE HONON

Num ato de despedida o projecionista da Sala 9, Quinchi Ho, virou-se ao longe da minha passagem. Sua mudança de sentido não interferiu na direção que eu havia tomado. Achei crível que o liboririntáqueo tentava me comunicar que o turaydo terminara, que o insegogu se iniciara. Tão distante quanto deveria ser o invisível o jovem Quinchi Ho se tornou longevo. Eu não parava de prosseguir. Continuava a me levar por diante. Meus passos eram resolutos. Não coxeavam. Meus olhos eram esquadrinhadores. Não se cegavam.
O mal e o bem entravam no insegogu. O tempo me permitia procurar a saída e salvá-la. Também me consentia o tempo desistir da saída ou matá-la. Calado continuei a existir. Caminhava em um corredor. Pavimento feito de luzes embutidas em eternidades de pequenas pedras. No desenvolver da caminhada as cintilações se intensificaram. Refrações atmosféricas? As pequenas pedras foram surgindo móveis abastecendo-me de imagens fantasiosas de pássaros metalizados. Poderia ser um sinal liboririntático de bons presságios? Não duvidei do sim.
Os pensamentos me provinham de substâncias reconfortantes. Davam-me prazeres quando se esticavam feito flexíveis formas voltando às formas primitivas. Caminhar expandia os pensamentos. A força não caçoava da fraqueza. Os pensamentos iam e vinham. Puros e impuros me obedeciam. Fui feliz em Liboririm e ainda sou liboririntaticamente feliz. A sabedoria liboririntática me ensinara o ser essencial. Preceitos morais envolvidos em parábolas cósmicas? Os caminhos do mal e do bem em trabalho no meu Sistema Nervoso Central. Com afagos e gulodices os pensamentos não cessavam o falatório mental. Diziam-me em pluralizações palavras com extremas velocidades: elasticidade, ações, paparicos, ajudas, pais, Eudaips, Jesus, escolhas, formigas, mulheres, pecados, preguiças, terras, liboririns, conselhos, afastamentos, plantas, semeaduras, colheitas, periferias, simplicidades, autônomos, complexidades, encéfalos, cerebelos...
Não sentia sono. Mantinha-me acordado às reflexões da reflexão. O ambiente liboririntático mesmo aqueles instantes apresentando tendências sufocantes me faziam reagir. Escutava o silêncio perfeitamente bem. Idem as naves espaciais que passavam zunindo do lado de fora das pequenas pedras móveis. Ouvia e interpretava as palavras dos sentimentos. Mãos e face se comportavam nítidas, normais. Deslizava minhas mãos nas pedras e luzes do corredor. Recebia as sensações tácteis e térmicas. O mundo visual do corredor me transportou da experiência visual para o meu próprio timbre de voz.
- Corra devagar Rúbio Talma Pertinax. Não se iniba! Mantenha-se excitado Rúbio Talma Pertinax. Evite as introspecções! -falei comigo mesmo.
A visibilidade aumentou. As pequenas pedras movediças em um único pensamento foram para além dos limites do corredor, o que trouxe a vastidão da claridade para dentro da passagem estreita e comprida. Principalmente os meus olhares e audição foram atraídos aos sinos dependurados nas últimas luzes do inesgotável universo liboririntático que me reconduzia ao planeta Terra.
Em grande júbilo os sinos tangeram várias vezes compondo uma sinfonia repleta de espiritualidade. Desejei parar de andar. Estagnar o meu correr devagar. Entregaria-me total àquela melodia sem mundos. Como se o silêncio que me habitava fosse o eco das palavras ouvi a repetição das palavras que em algum momento dos pensamentos falara para mim mesmo:
- Corra devagar Rúbio Talma Pertinax. Não se iniba! Mantenha-se excitado Rúbio Talma Pertinax. Evite as introspecções!
Outra vez não cessei a caminhada. Os sinos foram se silenciando. Completo silêncio. Uma porta de habateni circulou pela claridade. Passava de um lugar a outro alternando lentidão com velocidade. Agia a porta como se almejasse atrair a minha atenção e consequentemente a minha entrada e uso dos serviços de um habateni. Não conseguiu. Tirei do caminho dos meus pensamentos quaisquer possibilidades defecatórias e urinárias. Se eu entrasse no habateni seria possível o insegogu se paralisar de tal maneira que o tempo dentro do corredor retroageria ou se adiantaria ao tempo que pulsava fora do corredor. Quando a porta do habateni se enfraqueceu na armadilha bem dissimulada as luzes e cores se confessaram hipnotizadoras hipnotizadas. A pausa ou o fim da minha andança se revelou. Das intenções subentendidas meus pensamentos reais se aproximaram dos meus propósitos verdadeiros. O que aconteceria depois?
Alguns passos a mais e saí do Portal de Honon, o corredor. Reconheci a minha saída do portal  como um benefício liboririntático. O suave sentimento de gratidão trouxe à minha presença Ledub Genala, o nong. Viera me prestar as devidas despedidas.
- Ainda sois duoef gratífico duoef. Por que ainda estais a circundar o medo? Já tendes a fé que viestes procurar em Liboririm. Ou além da fé viestes buscar outros pensamentos, sentimentos, tempos não semelhantes, aprendizados abstratos e dissolutos? São variados os caminhos, os passos. É uma despedida poeta, escritor duoef...
Desta, dessa ou daquela maneira o insegogu atravessou o tempo liboririntático trazendo-me às palavras de despedimento do nong. Liboririm ardia no meu humano peito o coração da saudade. Ledub Genala não se calou de um overebut para o outro overebut. Continuou a me dizer mobilizadas palavras do seu sair me cumprimentando.
Breve, rápido e sem imprudências do nong saltou para fora do nong o médico Rolzi Stemkiv, que afetuosamente segurou em minhas mãos.