150º DRUNH, MINODGU / TÃO NOTURNO AINDA

A verdadeira e original pele, revestimento do corpo, uniu-se com louvor ao tecido celular subcutâneo. As minhas vértebras por um movimento se deslocaram. A dor rápida me fez morder o ar liboririntático. A boca lentamente foi se abrindo. Libertou todo o ar que aprisionara com a mordida. Nada aconteceria de mal com o meu corpo. Eu cabia na pele. A pele cabia em mim. Embora eu os esperasse os efeitos colaterais não vieram. Também não tive efeitos adversos nem dúvidas de que eu estava morando na minha própria pele.
Pretendia alcançar o planeta Terra antes dos próximos e últimos cinco drunhs, mas algo sentimental e racional me autorizou a permanecer ali parado no centro das atenções da Loja Machina de Costura. Talvez a recolocação da pele ainda necessitasse quem sabe de desenho, estímulo e uma cor que estabelecesse o padrão para se chegar à conclusão. Sei que os meus passos deixaram de funcionar por período liboririntático de tempo calculável e incalculável. Não conseguia determinar, contar esse tempo embora percebesse que na Loja Machina de Costura o tempo me imaginava, concebia-me, englobava-me. Reunia os meus pensamentos dispersos no esperar infindável e transitório.
Foi num repente exclamado que senti a pele se transformar perfeita em minha casa. Recebíamos, eu e a pele, a vida do minodgu. Éramos no drunh o drunh que ainda seria. A noite se desenvolvia sem tempo para acabar. Por conseguinte a sentimentalidade e a racionalidade providos de algo motriz me propuseram a andar. Foi o que eu fiz. Andei em todos os sentidos, e em todos os rumos me experimentei conveniente. A Loja Machina de Costura e Luoda Igefem se distanciaram. Tudo se movimentava, girava e saltava. A minha velha pele alegrava o meu coração.
Comecei a inserir nos meus passos saltos e mais saltos. Quanto mais longe eu chegava em relação à Loja Machina de Costura os saltos nasciam mais altos. Meu corpo percorria distâncias admiráveis. Minha mente transpunha espaços intracelulares e vitais. Minodgu, o drunh que nós éramos, injetava-me jovialidade. A alegria insinuante me fazia imaginar um ser nascido em Liboririm. Eu sofria a ação do meus deslocamentos de pulsações veementes. Meus arrebatados pulos naquele tempo liboririntático me davam sensações de irascibilidade. Porém estranhamente não eram sensações coléricas. Eram sensibilidades vivas em amplidão cósmica. Sensibilidades vigorosas e imediatas reações somadas aos aprendizados e velocidades dos saltos me fizeram imaginar um ser liboririntático que nunca se faria realidade. Completamente fruto da minha imaginação minhas palavras se corromperam, danificaram-se. Coloquei-as dentro da nave espacial que eu gozava e desfrutava como se fosse minha. O turbilhão de ideias me excitava e me impelia. Sem constrangimentos viajei para a cidade de Nesemix. 
Em Nesemix procurei a noite. Encontrei-a sob uma abundante chuva. Entreguei à noite as minhas palavras infectadas. Enquanto a vida liboririntática noturna tentava pôr em bom estado as palavras enfermas busquei na tempestade um bys-har onde pudesse imaginar o necessário do possível. Deu-se no bys-har o meu encontro com o liboririntáqueo que eu sonhava.
- O que vós quereis de mim duoef? Vós viestes para me destruir?
O liboririntáqueo que eu dizia ser tudo o que é não possuía nome. Fazia-lhe companhia uma liboririntáquea bonita, sedutora. Trajava um vestido costurado com linhas brilhantes. Usava calçados em cujos solados assentados no chão das nuvens resplandeciam pequeninos círculos de cristais. O liboririntáqueo perfeito e imperfeito se apertava macio no corpo da acompanhante flutuosa. Em alguns momentos ela o chamava de proxeneta. Em outros instantes ela desaparecia nos pelos metálicos do peito do amante. Reaparecia nua e manchada de sangue aos meus olhos de aspirações. A liboririntáquea dos meus sonhos desejou sair do bys-har e das nuvens. Disse ao amante que queria ir a outros lugares, que tinha vontade de ir à Rua Hesb e aos nocriths distantes da cidade de Nesemix.
- Foi para isto que vim até a este bys-har! -gritei aos seres da minha imaginação.
Os pulos e os saltos foram diminuindo até que os meus passos chegaram à normalidade. Uma gargalhada tão perto ouvi. Seria o liboririntáqueo peludo e imaginário? A ruidosa e prolongada risada penetrou em minha pele. Chegou aos meus murmúrios. Quando abandonou os meus sons mal distintos produziu-se na gargalhada outra grande e franca gargalhada. 
O silêncio chegara. Compreendi que eu estava em um deserto. Talvez fossem águas o que eu entendia de deserto. Mas era e ainda é tão certo ser o deserto um lugar solitário e quase sem águas. Subtrai ainda mais as águas. Calculei ainda mais o ermo. Sem espanto identifiquei no desabitado a presença de um óculos de lentes escuras feito a noite. Meus dedos tocaram na minha boca. Perguntei aos óculos:
- Consertastes, colocastes em bom estado as minhas palavras?
Desta vez foi o silêncio que abriu a minha boca e a ocupou com palavras consertadas e novas. De repente dei um salto, o mais alto de todos os saltos que no minodgu eu havia dado. O pulo me conduziu à entrada da Sala 9. Por menos de um foroac aquela noite criara em mim a impressão de ver além das luzes das estrelas as luzes da cidade de Nesemix. O que seria todo aquele silêncio? Influências de um liboririntáqueo desconhecido, estranho e de sua apreciadora nubívaga?
Sem respostas entrei na Sala 9. Sentei-me. O minodgu se arranhava com as semelhanças do fim. Eu me conformava em esperar. A paciência me dizia as suas palavras. Se viessem dores e incômodos eu os suportaria. Se precisasse de resignação eu a teria. Se o término dos meus saltos fosse o objetivo das sucessivas interações do minodgu não perderia a vontade de ser tão noturno ainda.