148º DRUNH, TXETAGU / A NOITE DO WICAUF

Os olhos nada comparáveis, únicos, que me acompanharam à noite foram os olhos da verdade. A liboririntática realidade me pertencia. Eu era uma porção dos sonhos que não me rasgavam. Eu fazia parte dos sonhos que não me cortaram dos longos caminhos sem crises e sem rupturas de equilíbrios. Caminhos que eu haveria de percorrer até que a noite me envolvesse. Encantado descobriria a pergunta caso ela realmente existisse. Deixando-a à vista escreveria a resposta se resposta houvesse na evidência, na precisão dos olhares que me protegiam.
Tanto tempo se passara desde que sem despedidas me separei do wicauf. Lembrava-me dos seus modos, dizeres, movimentos encantadores, nutritivos, que me marcaram de almas e livres saudades. Os caminhos não pediam perdão às saudades. Eu também não! Hesitava-me ao lembrar das canções cantadas por Terima Ansom. Qual das canções era a mais bonita?
A todos que eu fosse encontrar no restante da minha vida, a todas as pessoas que me perguntassem qualquer coisa, que despretensiosamente me preenchessem de acasos, a todos os seres de almas leitoras de almas, aos senhores e aos escravos, às solidões e às mídias eu contaria as verdades de Liboririm. Qual das verdades de Liboririm era a mais estimulante?
Os caminhos por onde eu passava, grandes extensões e vários sentidos, me animavam. Desinibido pisava nos pedregulhos agitados. Os passos provocavam euforia no chão. Delírios deliciosos me faziam respirar. Desejava que o tempo me transpirasse. Meus lábios não estavam queimados. Os sóis no futuro, nos drunhs, brilhariam para sempre na chegada sem costura da noite.
Meus sentimentos à flor da pele me disseram que a canção mais bonita de Terima Ansom era a canção das naves espaciais que favoreciam o desenvolvimento de Liboririm e cruzavam as noites no Planalto dos Metais. Voando no chão e no céu dos caminhos avistei, achei por acaso, apresentaram-se inesperadas espaçonaves liboririntáticas que bailavam no firmamento por todos os lados e profundidades de portas e janelas do cosmo. Constituíam-se em veículos exploradores do espaço. Tinham as mais diversas formas e tamanhos. Faziam-me entender que alguns deles partiam de Liboririm, outros chegavam a Liboririm. Naveguei nos meus interiores emocionais. Emoções que tomaram conta dos meus pensamentos, que não abandonaram as ebulições. Simplesmente os sentimentos invadiram as borbulhas dos pensamentos. Senti que estar próximo da noite inventada pelo wicauf poderia ser um pensamento decidido e definido pelos órgãos públicos liboririntáticos e não pelos sentimentos perseverantes, resolutos, emanados pelas minhas verdades. Nesse momento, nessa ocasião a roupa que me vestia se moveu no meu corpo de uma maneira tão diferente que as excitações oferecidas à pele que me cobria quase me fizeram crer que os liboririntáqueos lutavam contra mim. Não para me vencer. Sim para me proteger. Fragmento incandescente de pensamento em contato com fulgores dos sentimentos. Sem saber definir aqueles acontecimentos no meu corpo e alma procurei não parar de caminhar. Meu espírito viajou à esfera do meu pensamento e às estrelas do meu sentimento. O longe se levantou no perto. Mostrou-me a multiplicação das pedras. Levou-me às entranhas do perto. Meus olhos me viram no interior de uma espaçonave grande que a cada passo do meu chegar à noite se transformava numa espaçonave pequena. Quando a exiguidade da nave a fez pó eu me levantei do longe. Vi a porta de entrada da noite alcançada. Yurryczyarx, cidade liboririntaticamente longínqua, ficou mais longínqua. E pela última vez olhei para trás. Vi e senti os cheiros dos sóis.
Passei pela porta. A noite me agarrou seduzindo-me nas sombras novas. Entreguei-me às poderosas e repentinas ventanias. Sentimentos viajaram aos pensamentos. Segui os ventos. 
Além das estrelas outra nave, uma gigantesca nave, pairou sobre a minha cabeça. Revestia esta espaçonave uma nuvem de feixes que se moviam de um modo organizado. Imaginei ser inimaginável as interconexões que garantiam o funcionamento daquela cosmonave. Sob as energias da nave avistei uma parede iluminada por única blemedk. Atraído pela falta de hesitações que me pontuava passei para o outro lado aproveitando o furo, o buraco, a abertura feita na parede por raios projetados pela admirável espaçonave. Fortalezas ou loucuras poderiam estar à minha espera. Antes de o meu coração pintar em relevo as loucuras ouvi nos meus pensamentos a voz do wicauf.
- O Liboririm como justo!
Ou seria o sopro dos ventos? A voz e o sopro se irmanaram sem renúncias.
- Afável duoef, nada de tristezas! Será uma despedida sem lágrimas.
Ao atravessar a parede percebi que chegara a um local repleto de liboririntáqueos que por mais que eu abrisse os olhos da verdade não conseguiria enxergá-los. Com um pouco mais de tempo entendi não estar por exemplo em uma rua embora até sem saber explicar para mim mesmo compreendia que sentia aromas de cidades. Usei o tempo restante do pouco mais de tempo para rogar a Eudaips, ao wicauf, aos ventos a vida renovada, a encarnação das palavras e a confirmação liboririntática do planeta Terra. Erwtiryzus escaparam das roupas. Movimentaram os meus risos. A rir dessa maneira sabia que os liboririntáqueos conseguiam me ver.
- Afável duoef, nada de tristezas! Esta é uma despedida sem lágrimas. Colocai as vossas mãos sobre mim.
Causando-me admiração, de maneira inacreditável a ventania como se possuísse chifres se infiltrou nas vísceras da parede iluminada apenas por uma blemedk destruindo sob as estrelas o muro. A persistente enorme nave espacial pairada sobre a minha cabeça me recolheu daquele lugar e nos infinitos da mesma noite fez o voo ficar mais alto.
Dentro da nave o tempo incidia sobre todas as coisas que eu sentia e pensava. Era como se dentro e fora de mim os drunhs estivessem breves a se misturar; estivessem se misturando; e estivessem distantes de se misturar. Meus sonhos liboririntáticos também necessitavam de palavras. Não cantaria mais o fim das canções de Terima Ansom, a cantora da cavidade vermelha. Vozes das palavras se mesclaram às fantasias instrumentais. Telúrico como se preparasse minha casa para receber o abatxegu que viria do tempo, das estrelas, sentidos, significados coloquei as minhas mãos sobre meu corpo e alma.
A persistente e enorme nave espacial pairada sobre a minha cabeça me recolheu daquele lugar e nos infinitos da noite e ainda txetagu a mesma nave fez o voo ficar mais alto. Encontrei no interior da nave uma parede iluminada por uma única blemedk. Minha roupa se movimentou de uma maneira tão diferente que meu corpo se projetou em direção da blemedk que era só uma.
Fiquei frente a frente com a porta de entrada da Loja Machina de Costura.