146º DRUNH, TRAREGU / O SEGUNDO DRUNH NA CASA DO WICAUF

Certas coisas durariam para sempre. Outras coisas não persistiriam tanto tempo assim. Pedi a Eudaips que me salvasse da extrusão. Não queria de forma alguma ser expulso de Liboririm. Imaginava, pensava, calculava retornar à Terra levando comigo relíquias liboririntáticas da saudade. E quando saísse da nave espacial depois de viajar, perfazer, percorrer a órbita mais alta liboririntática e ter atravessado galáxias, ter atingido a trajetória elipsoide descrita pela Terra no seu movimento de transladação ao redor do sol que conhecemos, ficaria entregue às mãos dos humanos. Seria essa nave, esse disco voador, a ALAOT-155? Certas coisas não durariam tanto tempo assim. Outras coisas durariam para sempre. Fantasiei, supus, avaliei também as coisas que nunca existirão, as coisas que existiram e que voltarão a existir.
- Conservado duoef, o Liboririm como justo! Vejo que tão perto tão longe o duoef já está de pé, acordado feito as urdiduras dos drunhs que o tempo entrelaça nele mesmo. O vosso aspecto está ótimo meu prezado hóspede terráqueo calculador.
Os olhos do wicauf se abriram imensos. Refletiram-me numa imagem nítida. Observei-me nas paredes coloridas da casa do wicauf. Constante me vi nas profunduras do Rio Ojand cercado por volumosos alevinos que me garantiam sentimentos de alegria. Era como se a liberdade nunca tivesse se extraviado de mim.
- Predito duoef, o Liboririm como justo! Meus olhos vos fornecem encontros com exercícios experimentais de libertação. A minha casa, interiores e exteriores, está ao vosso inteiro dispor. Percorra-a. Encontre palavras, diagramas, rotas de fugas e de permanências, epílogos e prólogos, a física e a química, a obnubilação e a clareza veloz dos pensamentos. Tomarei obstinado o rumo central de Yurryczyarx.
As palavras do wicauf se mostraram para mim sons de ordens. Intensificaram raízes e asas. Movi-me pela casa como se em nuvens caminhasse nos céus liboririntáticos e terreais. Senti que a casa do wicauf era possuidora de felicidade. Com ou sem fim li na sua arquitetura uma alegria sem sofismas. Seria o wicauf um liboririntático presciente?
Das claridades solares que pintavam as paredes e do conhecimento daquela casa apalpei figuras angelicais e seres de idades avançadas. Anjos e anciões de almas portadoras da paz. Mas antes, possivelmente bem antes das minhas apalpações nas etéreas e elevadas peles dos intermediários celestiais, nas rugosas e engelhadas peles dos experientes e respeitáveis membros do Esclabrim, fui de encontro ao quintal da casa, que na verdade era um portal condutor ao ervaçal do wicauf. Imediato vi um brilhante suporte para pequenos objetos recortado em ângulos como se tivesse sido feito de esguelha. Sobre o console o wicauf deixara uma garrafa que decifrei como sendo uma jarra de vidro prestes a me servir partes do seu liquefeito conteúdo. Simplesmente assim aconteceu. Bebi em rápidas talagadas o líquido aromático contido no vasilhame. A princípio pensei que fosse chá de drevaci-irare porque sem mais nem menos passei a ouvir os sons do meu coração me rejeitando nos sons provenientes de alguma coisa que existia no coração de quem eu amava infinitamente: o planeta Liboririm. Meus olhares interpretados verdes subiram aos sóis. No céu de Yurryczyarx encontrei quatro pássaros sobrevoando a casa do wicauf. Seriam esses pássaros dèjá vu, perdões, levezas encarquilhadas de todos os corações?
Temi que traregu, o segundo drunh que eu passava com o wicauf, fosse mais rápido do que as minhas velozes talagadas no líquido aromático contido no brilhante vasilhame além disso também decifrado verde. No meio das coisas existentes no ervaçal descobri ou imaginei calcular que havia sob as ervas plantadas uma seção de tubos que constituíam uma rede de canalização. Sem a cidade de Yurryczyarx ser tomada por nuvens escuras uma chuva desabou sobre a minha cabeça tão envolvida com as palavras que despencavam, saltavam e se soltavam dos nove sóis liboririntáticos. Assim eu já não era dois porque as águas naturais do Rio Ojand em algum momento eterno do possível da experiência da razão se encontrariam com as águas calculadas do Rio Graepia formando o vonnarawwatc, e eu me transformaria - o Liboririm como justo! - em um só ser, uma só carne, um liboririntáqueo de convicções concretas. Seria o meio das coisas a inexistência do fim?
Imaginei que o quando o wicauf retornasse à sua casa vindo das ruas centrais de Yurryczyarx iria se deparar comigo esparramado no solo do ervaçal. Provavelmente meus pensamentos seriam achados em forma de gotas de suores. Não era ainda o fim. Mas seria o fim que me aceitaria da mesma maneira que Liboririm me aceitava. Então eu, Rúbio Talma Pertinax, voltaria a ser dois porque o Liboririm como justo me conduziria à Terra. Porém compreendia esparramado no solo do ervaçal que o reino liboririntático dos céus se fixaria nas minhas vocações e memórias porque eu era como eles, os liboririntáqueos das águas dos nove sóis.
- Concedido duoef, o Liboririm como justo! Eis-me de volta ao ervaçal. Viestes de tão longe. Permanecestes tão perto. Meu entendimento, juízo, penetra na vossa linguagem. Vosso coração é aceito pelo justeza de Liboririm. Ah, não bebestes chá de drevaci-irare. Tanto a Esfera Escura quanto a Fonte Xadeicon estão bem distantes de Yurryczyarx assim como o duoef que empiricamente talvez longe já esteja. Bebestes infusão de stiwdean, erva que possui poderes lisérgicos, alucinógenos e que influenciam as percepções acerca do universo psico-afetivo do alienígena ou do abduzido, se preferir que eu vos chame assim. Para nós, liboririntáqueos, a ingestão de stiwdean  causa somente o aprimoramento dos relaxamentos musculares.
O traregu continuou a existir nas coisas ensolaradas do tempo liboririntático. Em algum lugar de Liboririm poderia estar chovendo naquele overebut. O wicauf voltara à casa antes e depois da chuva idealizada. Simples aconteceu o momento que me levantei do ervaçal. Talvez o traregu não mais existisse quando o wicauf se antecipando ao inquagu, o drunh que ainda surgiria, despediu-se de mim.
- Indivisível duoef, o Liboririm como justo! Se quiseres entrar na chuva atento a observe. Logo este traregu deixará de existir. Em todo o planeta chegará o inquagu, o novo drunh que trará a chuva. As águas cairão em grande abundância. Os rios Ojand e Graepia transbordarão. Extravasarão as saudades que os liboririntáqueos começarão a sentir porque a partir do inquagu prestes a chegar se iniciará a existência dos últimos nove drunhs da realidade do duoef em Liboririm.