142º DRUNH, TURAYDO / CANÇÃO DO AMOR

Entreguei-me ao tempo e aos sóis. Foi o que eu fiz naquele momento. Deitei-me no primeiro chão retirado e aprazível que encontrei. Como se escutasse, inspirasse e expirasse uma canção do amor dormi.
Liboririm não é planeta feito de milagres. Embora não me sentisse exausto necessitei livrar-me da fadiga. Dentro de mim existiam desbloqueios aos sonhos. Cultivava e cultuava invenções de graduais diminuições da minha resistência com o intuito de buscar e ser buscado pelos sonhos. Eles tinham poder e generosidade de contar amores, de me informar alumbramentos, deslumbramentos. Talvez por isto passavam em minha cabeça as noites e os mares inexistentes em Yurryczyarx.
Teve princípio o despertar. Antes de os olhos se abrirem e os olhares tocarem na realidade liboririntática meus pensamentos me levaram ao céu de Yurryczyarx ou me transportaram ao mar? Sim! Precisamente na Praia do Atalaia, Salinópolis, nordeste do estado do Pará, Brasil, planeta Terra. Meus pés se mobilizaram na areia. Receberam as salgadas águas. Todo o corpo foi banhado assim que uma nave espacial se movimentou e saiu de onde estava mergulhada, pousada e se elevou, manifestou-se naquele paradisíaco instante. Nesse então corri sob a nave e me introduzi no mar até que achei as pegadas, as marcas alienígenas daquele objeto voador e as líquidas palavras semeadas nos meus pensamentos buscantes dos entendimentos e das inspirações. Nesse onírico retorno à Terra vi o rosto firme de Eudaips se mesclar ao semblante de Deus. Sob o sol do estado do Pará fui me tornando real aos sóis de Liboririm. Despertei de vez sem negar os meus olhos embebidos nas ondas extensas, inacabáveis da canção do amor.
Ergui-me no chão afastado. Meu coração, semente e semeador, pulsava na certeza de que a realidade se fizera sonho, que as sequências das ideias, pensamentos vagos, agradáveis ou não, incoerentes ou coerentes se vertiam em realidade. Desejei ao coração que ele jamais se cansasse de mim.
A solidão de Yurryczyarx e a cidade de Yurryczyarx gostavam das perambulações que eu executava. Eu admirava Yurryczyarx, tão diferente e igual a Nesemix. A cidade resplandecente também se gabava do meu ser solitário. Oferecia-me o dormir e o acordar quantas vezes fossem necessárias para a consolidação do meu desde antes esperado regresso à Terra, planeta envolto numa massa gasosa nomeada de atmosfera. A solidão e a incomunicabilidade se alimentavam do meu ser em rodízios porque eu necessitava de fé, ovelhas, lobos, serpentes e pombas que me faziam acreditar nas metáforas que nos ares do planeta dos nove sóis eu respirava.
Antes de ver os yotolacs e baxatics ao longe pressenti que a atmosfera de Liboririm se chamava canção do amor. O ar de Yurryczyarx me impulsionava. Eu pensava antes de falar qualquer palavra, qualquer coisa comigo mesmo. Vagueava pela cidade imponente, cintilante. Recordações me acompanhavam. No princípio do drunh fui tomado por lembranças terreais. Algum tempo depois - tempo que não durou mais da metade de um drunh - recordações liboririntáticas vieram conviver com as minhas lembranças da Terra.
Assim como em Nesemix, Yurryczyarx possuía numerosos yotolacs e baxatics. Os yotolacs, pela fato de serem movidos exclusivamente pela energia solar, tinham o design diferente dos yotolacs de Nesemix, que se moviam usando as energias solar e estelar. Em alguns drunhs entrei em yotolacs da Esfera Brilhante. Percorria itinerários com o único propósito de experimentar as sensações do tempo passando. Nessas viagens sem destino recordações chegavam aos meus pensamentos como se originassem da canção do amor. Em Yurryczyarx também fui transportado pelos baxatics. Se os liboririntáqueos se silenciaram comigo o mesmo não aconteceu com os robôs triglotas que teleguiavam os baxatics. Eu entrava nos baxatics apenas para conversar com a máquina teleguiadora. Assuntos à distância que me faziam sentir menos solitário nas entranhas da galáxia liboririntática.
Assim o tempo me iludia. Eu acreditava que ele passava, corria pelas retas, subidas, descidas e curvas de Yurryczyarx. Talvez o tempo liboririntático estivesse parado, estático na canção do amor. E eu, o abduzido Rúbio Talma Pertinax, talvez estivesse pela esperança de retornar à Terra totalmente dinâmico.