139º DRUNH, TXETAGU / MÚLTIPLOS MEDOS

Assim caminhei feito andarilho predestinado a não parar a não ser que as distâncias que até então me motivavam começassem a me causar medos. Meus olhares se fizeram mais atentos do que de costume. Reparei que os pensamentos se alongavam, Pensava, por exemplo, em Nesemix. Esse pensar iniciava um processo dilatador, multiplicativo e muitas vezes exagerado de imagens nesemixianas em minha mente. Concluí que o procedimento elástico dos pensamentos era efeito colateral provocado pela cidade de Yurryczyarx. Talvez com o passar do tempo o próprio tempo voltasse a ser liboririntático como antes. O mais perturbador era que o tempo em hipótese alguma deixara de ser liboririntático. E o antes, aproximadamente mais, levava-me lentamente ao desapego às coisas de Liboririm. Restariam-me no final da jornada as memórias, as afeições, as fascinações.
Sempre em movimento afirmava para mim mesmo que eu não estava doente, contaminado por bactérias ou hospedando agentes infecciosos que se reproduziam nas minhas células. Inferia que eu passava por avançado e ferrenho processo de adaptação para que o organismo, a mente e as minhas características terrenas comportamentais se coadunassem à realidade da Esfera Brilhante porque uma voz com nuanças de relincho me dizia que daquela Esfera liboririntática eu não sairia até que o meu retorno ao planeta Terra se solidificasse no existir liboririntático do tempo.
Caminhava e tinha a impressão que por mais extensos que fossem os drunhs alguns deles passaram desapercebidos de mim e por mim. Algo acontecera de estranho e de improducente. O pior era que eu sentia profundamente esse vão, esse acontecimento fora do comum. Por mais palavras e imaginações que eu buscava não conseguia definir, até mesmo inventar teses ou mentiras que explicassem a verdade dos meus sentimentos. Eles eram o que os meus pensamentos nomeavam de múltiplos medos.
O dropoliq correu atrás de mim. A princípio com toda a semelhança do final via no liboririntático maltrapilho a ameaça de perigo. Ele corria. Eu caminhava. Alcançou-me em poucos overebuts. Irrequietos o tempo e as velocidades se repetiam com a nitidez do sempre e jamais acontecido.
- Duoef dos duoefs não vos sintais sozinho porque não quero vos pedir amarguras e fracassos. Não me interesso por vossas torturas. Não sei se sou bom, certo, malévolo ou errado. Sinto que não estou mais estático. Entre estas múltiplas pontas e ruas de Yurryczyarx sei que tenho fome. Peço ao retirado retirante que organize um festim, um banquete. Sou Idmmif  Saaci, o dropoliq.
Não foi do momento para outro momento que parei de caminhar. Poderia ser que nada houvesse ido embora. Pode ser que os múltiplos medos duraram mais drunhs do que a quantidade de drunhs existentes na minha memória.
Enfim cheguei ao término da caminhada. Idmmif Saaci abandonou as repetições dele mesmo, as correrias. Fui perdendo a sensação de ser o dropoliq ameaça de perigo. Para o dropoliq deixei de ser o duoef dos duoefs. Tornei-me simplesmente a medida exata de um único duoef.
- Alcançado duoef, sei que vós sabeis preparar iguarias deliciosas...
Abafada voz com nuanças de relincho superada por sons de sirenes. Os sons provinham de lancambus que cruzavam o céu de Yurryczyarx. Também derivavam das fábricas da cidade brilhante.
Aceitei ser conduzido a Liboririm para viver em abundância. Na liboririntática contemporaneidade eu não me sentia cansado em relação ao fantástico cotidiano da vida em Liboririm. Não convivia com mecanismos. Muito menos caminhava em terrenos insensíveis. Respondi ao dropoliq que ele não errara. Eu sabia sim cozinhar.
Ao completar a resposta fiquei tão perto de Idmmif Saaci que pude ver uma mancha avermelhada na pele do liboririntáqueo. Medo imediato tive ao pensar que aquela mancha fosse contagiosa. Meus olhares se infiltraram no corpo do dropoliq. Motivada por essa penetração ocular a transformação do invisível em visível me fez testemunha da aparição de um magérrimo zvaiolac. Corporalizado o animal, milagre liboririntático, aproximou-se do dropoliq como se o conhecesse intimamente, Abriu a bocarra, Sem a menor hesitação lambeu a pele manchada de Idmmif Saaci. O dropoliq e o zvaiolac pareciam estar no entendimento um do outro.
- Parecido duoef, entre os xyddrars da Rua Hesb, Nesemix, e os zvaiolacs de Yurryczyarx existe uma lolesboquia que vós ireis conhecer por testemunhar a vivência das luzes liboririntáticas nas quais o duoef preparará os alimentos para o festim. O banquete me nutrirá. Engordará o zvaiolac. Sustentará e dará mais ânimo ao espírito do duoef. Retirará do meu corpo a mancha vermelha. Antecipo a Rúbio Talma Pertinax a necessidade de se fazer festa e se alegrar porque os próximos drunhs anunciarão que o duoef não se perdeu. No entanto, foi encontrado.
Muito mais do que mágica assim defini a casa nascida de dentro da lolesboquia. Uma casa robusta, acolhedora.
- Avante duoef, envolva-se com a casa. Encontre os utensílios, os temperos, os ingredientes, os alimentos, as águas e preparai a nossa comida. A justiça da vossa fé vos levará de volta ao planeta Terra. Retornarás à vossa fonte mesmo se a solidão vos causar receios ou em vós ela confiar.
Portas curvas na casa que de repente encontrei. Por elas passei. Ao chegar no interior da morada não pude mais ver o dropoliq nem o zvaolac. Sem hesitações aos poucos encontrei as substâncias que entrariam na minha preparação culinária. Sentia a alegria do justo. Não seriam necessários e não tinham importâncias os medos. Poderia ser que a solidão a qual se referira o dropoliq fosse completamente diferente da solidão que eu imaginava. Uma solidão que viria a me contemplar com refeição solene servida quem sabe aos convidados da história liboririntática do dropoliq e do zvaolac.
Contudo, nenhum medo teria razão para se sentar ao lado das solidões.