137º DRUNH, TRAREGU / A COR DA ERVA

Por que as coisas somem, perdem-se, gastam-se, consumem-se, ocultam-se, escondem-se, encobrem-se, submergem-se, afundam-se? Meus olhos em Yurryczyarx possuíam a cor da erva: verde. Eu confiava, acreditava que o azul do céu liboririntático misturado com o amarelo dos sóis resultavam os meus olhares esverdeados. Entregava-me sem receio à certeza de que eu estava no caminho certo. Encontraria a passagem ou por todos os metais me depararia no futuro com a nave que me transportaria de volta ao outro futuro da Terra.
Assim pensando, algo inexplicável, muito grande e excepcional aconteceu. A cidade de Yurryczyarx me sugou. Absorveu-me em tempos mais extensos do que o próprio tempo de Liboririm. Representações mentais me fizeram sentir incorporações físicas em  meu estado afetivo. Os edifícios de Yurryczyarx apareciam para mim como se fossem feitos de água e areia. A cada aparição sobrenatural dos sóis eu me deitava sobre os prédios. Eles se desmoronavam e as águas me levavam à parte central, o essencial, o âmago de Yurryczyarx. Meus sentidos foram mexidos por essa realidade provocada por essa experimentação liboririntática. O resultado disso tudo: perdi o controle sobre o transcorrer dos drunhs. Embora estivesse continuamente vivo, incessantemente acordado passei a me esquecer de várias coisas. Até mesmo a memória deixava fugir a consciência que eu ainda permaneceria em Liboririm, um planeta sem medidas comuns. Todos esses sentimentos e pensamentos se normalizaram com o passar dos ventos no meu corpo tomado por um amorenado tanto.
Novamente a lucidez me atingiu. Yurryczyarx é uma cidade fantástica. Percebia momentos em que eu a abduzia, a desviava do ponto sem separá-la de nada. Harmônico e conexo com a Esfera Brilhante fui me fortificando, adaptando-me à nova caminhada num percurso sem noites. IMTAGONX reapareceria quando viessem os momentos infalíveis.
- Bronzeado duoef, o tempo é recíproco. A inexistência de noites na Esfera Brilhante é indolor. Os últimos drunhs para o duoef serão os novos drunhs para os liboririntáqueos porque os novos drunhs principiarão a nos ensinar a conviver com a vossa ausência. Sei que procurais sede. Sou Pexen Kraton, o istikunas lagta.
- Sou o homem!
Pexen Kraton e todos os drunhs nas ruas ou em IMTAGONX derramavam sobre o meu corpo água. No início eram apenas gotas. Com o decorrer do tempo os drunhs se fizeram o presente tempo de um só drunh: traregu! Assim num traregu o Rio Ojand não desapareceu da minha memória nem das visões. Os edifícios de Yurryczyarx navegaram nas águas do rio. As ruas da cidade cintilante se moviam. Balanços plantados e coloridos nos ventos de todos os cantos de Liboririm. O traregu que vos conto foi um drunh terno. Pexen Kraton, o rio Ojand e Yurryczyarx me ofereceram a travessia a novos tempos. O espírito de Liboririm não se separaria dos meus afetos.
Yurryczyarx, onde a minha fome solidificou-se. O Rio Ojand prosseguiria a sua sorte. Encontrei na esquina da Rua Siegji com a Rua Habcias um atraente bys-har. Não durou sequer um overebut e descobri o nome dessa sala com balcão, cadeiras e pequenas mesas: Bys-har K'Tysne. Meus olhares esverdeados exploraram o espaço do estabelecimento. As paredes do K'Tysne eram de tonalidade diluída do vermelho. No centro do salão a presença de uma árvore frondosa cujas ramificações atravessavam as paredes e o teto à procura dos sóis. Branco era o teto bordado de nuvens.
Aproximou-se um liboririntáqueo benquisto de pele negra. Apresentou-se como sendo o tabalon.
- Quero uma jivec estupidamente gelada.
- É para já caro duoef.
Ao fundo do bys-har na parede uma pintura que transitava entre o abstrato e o figurativo. Representava um awwlo-retfi de setenta e duas cores.
Chegou a jivec solicitada realmente gelada. Bebi-a com prazer. Ainda a pulsar no tempo do Rio Ojand senti que o awwlo-retfi me dizia oi, alô e me perguntava: - Como vai? Fiquei a admirá-lo como se o olhasse à espera dum vaioby. - Vou bem!
- Bronzeadão duoef, o tempo se dá a vós. E vós, homem terreno, realiza com o tempo de Liboririm uma troca. Torno a afirmar que indolor é a inexistência de noites na Esfera Brilhante. Os novos drunhs para o duoef serão os últimos drunhs para os liboririntáqueos porque os últimos drunhs começarão a trazer aos liboririntáqueos saudades do duoef. Sei que ainda procurais sede.
- Sou o abduzido!
O istikunas lagta ainda me disse algumas palavras. Entre essas poucas palavas ouvi com clareza Yurryczyarx e IMTAGONX. Depois Pexen Kraton saiu dos bys-har. Foi embora se infiltrando na mistura de liboririntáqueos que circulavam nas ruas da cidade.
- Outra jivec estupidamente gelada meu caro duoef?
Respondi afirmativo ao tabalon. Eu não "hetroaa" naquele instante. Também não seria eterno em Liboririm nem na Terra.
OETZU ZANNV, O RONNIXXLAB
Bebendo a segunda jivec procurei compreender poque confiava em Liboririm. O planeta nunca mentira para mim. Eu nunca o enganara. Lealdade e retidão que muitas vezes me faziam suspeitar, questionar se Liboririm era o autor do meu destino ou se era eu uma espécie de autor do destino liboririntático que inesperadamente me ocorria.
Jivecs vinham. Jivecs iam. Sob os sóis e sob o teto do Bys-har K'Tysne se colocou perto de mim um liboririntáqueo de voz impostada cuja aparência interpretei fingida.
- Inverossímil duoef, na verdade vos digo que sou Oetzu Zannv, o ronnixxlab. Aceitas o meu surgimento? Eu admito que o duoef possui olhos verdes!