154º DRUNH, SETERGU / BOM PRESSENTIMENTO

Os elevadores não se atrasariam. Eu não me retardaria. Apenas um dos elevadores, mesmo se todos eles chegassem juntos, levaria-me ao destino das alturas liboririntáticas. Durante o tempo da espera divaguei, acompanhado pelos ruídos de cabos de aço, correntes e roldanas, sobre os substantivos masculinos equilíbrio e desequilíbrio. Corpo e mente. Eu não queria e nem poderia interromper os meus pensamentos. Inverti a sequência dos olhares no encalço dos pensamentos. Movimentei-me como o meu corpo se desequilibrasse. Meus ossos produziram estalos. Senti conglomerados de vertigens e medos. A qualquer instante o desequilíbrio poderia me tirar o equilíbrio. Eu desvairava e iludia, pelo menos tentava, a minha emotividade excessiva. Passava os dedos nas paredes com o intuito de prosseguir a escrevinhação numérica e também com o intento de apagar todos os números que escrevi na mesma parede liboririntática que se erguia em proteção aos elevadores desequilibradores.
Os elevadores se retardariam. Eu me atrasaria? Eu era um homem próximo da janela alta. Escolhi a paisagem vista desta janela para ser a minha companhia até que os elevadores chegassem. Mesmo absorto e equilibrado no mundo liboririntático que eu admirava do outro lado da janela continuei a ouvir os ruídos das roldanas, correntes, cabos de aço. A melhor maneira que eu dispunha de amenizar a espera foi inverter outra vez a sequência dos olhares sobre os pensamentos. Procurei não me variar em demasia com o tempo. Afastei-me da janela. Aproximei-me dos elevadores. Meu corpo se posicionou normal sem oscilações. A mente não se desviou das sonoridades metálicas. Conservei-me em equilíbrio. Não consegui reconhecer se foi fácil ou difícil esperar os elevadores.
Os elevadores chegaram? De repente me habitou uma forte lembrança do meu pai. Memória verdadeira, positiva, que me encorajou, alegrou-me. Meu pai se apoiou nas minhas mãos. Os movimentos dos veículos eram intensos. As ruas cheias de gente e automóveis. Caminhamos em direção do Parque Municipal da cidade de Belo Horizonte. Era um dia de muito sol. Motivado pelo calor antes de entrarmos no parque meu pai comprou sorvete. Brotou em mim um largo sorriso. Adentramo-nos pelo verdejante espaço de lazer. Soltei-me das mãos do meu pai. Corri em todas as direções até que o crepúsculo matutino iluminou a figura do meu pai. Lancei-me sobre ele para o tocar. Esta recordação desvaneceu os maus pressentimentos. A espera não causava dor. Não sentia a presença em mim de sinais de sono. A espera pelos elevadores estava prestes a se findar. 
Fiquei fascinado, maravilhado quando os elevadores chegaram. As esperadas máquinas elevatórias abriram as suas portas. Fiz a minha escolha. Entrei na cor clara do elevador escolhido. Imediatamente à entrada a porta se fechou. Fui conduzido às alturas veementes do Setor de Devolução (SD). Talvez o SD funcionasse na cidade de Nesemix. Mas como saber? Indubitavelmente de que adiantaria saber naqueles momentos terminantes da minha estadia em Liboririm a localização do SD? Perguntas a responderem perguntas. Estava prestes a acontecer a minha chegada à Terra.
Ao sair do elevador me deparei com uma plataforma cercada por cintilações siderais. Fiquei admirado com a grande quantidade de robôs que circulavam nas imediações do disco voador, da nave pousada sobre a plataforma espacial. Eram espetaculares robôs impregnados de tarefas aeroespaciais, comunicacionais, logísticas, trabalhos de navegação, seguranças, convicções. Alguns desses robôs me acenaram. Gestos de despedidas. Deslumbrado com os mecanismos automáticos liboririntáticos não vi de instantâneo um dos robôs me apontar a porta da nave que me transportaria de volta à Terra. Assim que percebi os sinais do robô uma pequena e fosforescente placa de metal surgiu à minha frente. Nela havia palavras gravadas com laser e fogo cujos teores informavam características daquele robô apontador.
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NOME / TNEUHUMX
PERFIL / MODERADO
APRENDIZADO / ESTÁVEL CONSTANTE
INTELIGÊNCIA / AUTOMÁTICA
COMPREENSÃO / ANALÍTICA
PROVISÃO / DESEMPENHO DISPONIBILIDADE
SERVIDOR / SEGURO
AMBIENTE / TEMPO REAL
APLICAÇÃO / TRANSPARENTE
CAPACIDADE / MILHENTOS DE MENSAGENS POR FOROACS
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Assim que terminei a leitura dos dizeres da placa o robô Tneuhumx se apressou em chegar perto de mim. Meu coração começou a voar. Entrei e me instalei na nave chamada Atnaglux. Ainda vi os acenos dos robôs liboririntáticos antes de tudo se escurecer. Meu coração se sentia claro. Tive então o bom pressentimento que a viagem de regresso ao planeta Terra começara.
- Meu pai, drunh samenoa khaej?
- Meu filho, khaej setergu!
Enquanto a velocidade da nave Atnaglux agisse no tempo único existente nos múltiplos tempos encontrados o meu pai não desapareceria das minhas lembranças. Meus pensamentos e sentimentos visitaram e revisitaram cidades liboririntáticas como Algnisav, Delusila, Fagja, Inesurv, Rettac, Butrew, Nesemix e tantas outras.
A viagem para fora de Liboririm prosseguiu sem interrupções. As expectativas me tomavam na esperança sem promessas. Ouvia pacientemente os ruídos da Atnaglux. Em certo momento da viagem perguntei ao meu pai se ele sabia ou imaginava em qual lugar da Terra eu seria deixado. A resposta se deixou conquistar pelo silêncio inesperado e inesitante. Meu pai partira das minhas lembranças liboririntáticas e se convertera às minhas  memórias terrestres, humanas.
LAVAN DRALESOE, O SMEKAGECPYMYTA
Fechei os olhos. A mente ansiava que quando os meus olhos se abrissem o planeta Terra, a América do Sul, o Brasil, a cidade de São Paulo e o local da minha abdução tão a pouca distância do Cemitério da Consolação alegrassem o meu coração voador.
- Devolvido duoef, abra os vossos olhos! Sou Lavan Dralesoe, o smekagecpymyta.